É importante diagnosticá-la devido ao
seu significado prognóstico. Numa área de alopécia cicatricial a regeneração do
folículo piloso é biologicamente impossível.
Alopécia cicatricial secundária a agressão - traumatismo,
queimadura química, tração repetida, exposição a agentes radioativos usados com
finalidade terapêutica, tumores, infecções bacterianas, virais ou fúngicas
podem determinar áreas de alopécia irreversível.
Alopécia Cicatricial Primária - Determinada por doença da pele que afeta
os folículos: lupus eritematoso cutâneo benigno (chamado discóide), líquen
plano pilar, e foliculite decalvante, por exemplo. Nestas doenças o diagnóstico
precoce e tratamento é vital para evitar zonas de alopécia irreversível (ver alopécia cicatricial primária).
No Antigo
Testamento, mais concretamente no Levítico, explica-se que há doenças para as
quais o sacerdote deve declarar o portador “impuro”, por não poder voltar a
existir cabelo nessas áreas. Alopécia cicatricial não é mais que o estádio
final de agressões ou de doenças em que a pele normal é substituída por áreas
de cicatriz, tornando-se impossível regenerar o folículo, e deixando de existir
pelo de forma definitiva. Classificamo-la em Primária ou Secundária. Primária,
quando uma doença da pele afeta diretamente o folículo piloso. Habitualmente
são doenças inflamatórias que destroem o reservatório de células
pluripotenciais existentes na parte superficial do folículo. Secundária, quando
uma agressão – traumatismo, cirurgia, radioterapia, infeção, acne – determina uma área de cicatriz que implica
alopécia irreversível.
As doenças que
determinam alopécia cicatricial primária não são muito frequentes. Entre os
caucasianos, a mais frequente é o líquen plano pilar (LPP).
Líquen plano pilar |
Na forma mais
comum, determina pequenas peladas em pegadas ou então um recuo da linha
anterior de implantação do cabelo, aumentando a extensão da testa. Esta última forma chama-se alopécia
fibrosante frontal (AFF) e é mais frequente na mulher pós-menopausa. Trata-se
com corticosteroides e, por vezes, com finasterida. Muito mais rara e exclusiva
de caucasianos, a pustulose erosiva do couro cabeludo, a qual determina
erosões, escamas e crostas e responde aos corticoides em creme. Na raça negra,
a mais frequente é a alopécia de tração. É determinada pela agressão física
provocada pela tensão ao fazer tranças e afeta sobretudo a área fronto-
temporal. O essencial é parar a agressão
e em fases muito iniciais o minoxidil pode ajudar. Exclusiva da raça negra é a
alopécia central centrífuga, na qual a área de alopécia se vai extendendo de
dentro para fora (responde mal a qualquer tratamento).
Alopecia central centrífuga |
Também quase
exclusiva de negros é o acne queloidalis nucae, caracterizado por inflamação de
folículos e cicatrizes na zona da nuca. A foliculite decalvante (FD) pode
surgir em brancos e negros e caracteriza-se por grupos de cabelos em tufos,
crostas, pontos de pûs e área de alopécia (normalmente única, que se vai
estendendo). Trata-se com antibióticos tópicos – clindamicina, eritromicina – e
sistémicos – minociclina, rifampicina, clindamicina, etc. Menos frequente, e
ocorrendo em ambas raças, o lupus eritematoso cutâneo benigno (chamado
discóide) também determina alopécia cicatricial.
Lupus eritematoso discóide – exemplo de alopécia cicatricial |
O melhor medicamento para o controlar é a
hidroxicloroquina. Como cada doença se trata de forma distinta, há que saber
com precisão de qual se trata. O diagnóstico pode ser ajudado pela dermoscopia
(ver a pele em aumento) e confirmado pelo exame histológico da peça de biopsia.
As células inflamatórias são linfócitos no caso de LPP ou Lupus e neutrófilos
no caso da FD. Em fase final, a histologia não consegue dizer qual a doença,
mas apenas que é alopécia cicatricial.
Estas doenças
constituem desafio diagnóstico e de tratamento e devem ser referenciadas a
dermatologistas com experiência a trata-las. O primeiro objetivo é com o
tratamento é travar a doença. Numa segunda fase, e com a doença clinicamente
não evolutiva, pode fazer-se prova para transplante (10 ou 20 implantes). Caso
após um ano sobrevivam, é lícito tentar repovoar a área de alopécia cicatricial
através de transplante de cabelo (ver transplante de cabelo). O mesmo se pode
fazer em cicatrizes de traumatismo, cirurgia, radioterapia, infeção ou acne
(neste caso para cicatrizes da área da barba).
Dr.
Rui Oliveira Soares
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