Androgenética – também dita calvície comum, que afeta
homens e mulheres, embora de forma diferente. O fator mais determinante é a
genética e tanto os genes provenientes da mãe como os do pai podem predispor a
padece-la (ver alopécia androgenética).
Deflúvio (queda) – A queda de cabelo, se muito intensa,
pode levar a alopécia. Pós parto, dietas, cansaço, ansiedade, doença (diabetes,
doença tiroideia, carência de ferro, doença de Addison, Lupus, infeção febril,
neoplasia), cirurgia e medicamentos são causas possíveis. O mecanismo é o
aumento do número de cabelos em fim de ciclo (ver fisiologia do folículo
piloso).
Areata - Apresenta-se como áreas sem cabelo, arredondadas
ou ovalares, de tamanhos variados, únicas ou múltiplas. O fator mais importante
é a genética, que conduz a auto-imunidade - o sistema imunitário ataca os
nossos próprios folículos (ver alopécia areata).
Multifatorial – É frequente, sobretudo em mulheres, a
alopécia difusa ser determinada por causas variadas (exemplo: pós parto,
carência de ferro e predisposição genética).
Alopécia androgenética (calvície comum)
a) Miniaturização: principal alteração na alopécia androgenética
b) Ativação de recetor da papila dérmica por
androgénio ativado
A falta de
cabelo pode ter causas variadas. Entre todas, a forma mais frequente de falta
de cabelo (alopécia) é a determinada geneticamente. Incide sobretudo na parte
de cima do couro cabeludo, poupando mais as áreas de trás e de lado (isto deve-se
a diferenças no número e tipo de recetores para a hormona masculina ativa entre
as várias áreas), e afeta de forma frequente homens e mulheres, embora de forma
diferente. No homem observa-se como padrão mais frequente o recuo da linha
fronto-temporal anterior, o atingimento occipital (“de santo António”) e
finalmente a futura união destas áreas.
Evolução ao longo do tempo |
Na mulher a
linha anterior fica habitualmente preservada, observando-se miniaturização
(pelo cada vez mais fino) difusa e progressiva na área superior/anterior.
Tem sentido tratar esta forma de
alopécia, embora não constitua doença, na medida em que representa preocupação
para a maioria das pessoas e pode alterar negativamente a auto-imagem. Existem
três níveis de intervenção:
1 – Local – Actualmente não
existe dúvida de que o mais eficaz produto aplicado directamente no couro
cabeludo é o medicamento minoxidil, utilizado habitualmente a 5% (nas mulheres
usa-se com frequência a 2%). O efeito adverso mais frequente é a irritação
(controlável aplicando um corticosteroide alguns dias da semana). Raramente,
pode acelerar as batidas do coração (palpitações). As prostaglandinas são o
segundo medicamento em termos de evidência científica, mas ainda não existem
formuladas para uso capilar. Cafeína, melatonina, plasma rico em plaquetas,
mesoterapia com finasterida e algumas formas de LASER têm um nível de evidência
ainda mais baixo.
2 – Sistémico – Finasterida ou
dutasterida (comprimidos) por via oral, de modo a bloquear a acção da hormona
masculina no folículo piloso é a intervenção com resultados de maior evidência
científica. Sabe-se hoje que a dose de finasterida eficaz na mulher (5mg) é
bastante mais alta que a dose eficaz no homem (1mg), embora na maior parte dos
países a administração a mulheres não esteja ainda regulamentada. O impacto na
sexualidade com doses de 1mg de finasterida parece ser mínimo ou apenas efeito
nocebo (efeito lateral pelo facto de estarmos à espera que suceda). Na mulher,
a redução da libido é o efeito mais frequente com 5mg diários de finasterida
(uma em seis). A gravidez está proibida durante e, por segurança, alguns meses
pós tratamento devido à feminização masculina observada com grandes doses em
ratinhos. Flutamida e espironolactona são alternativas (menos eficazes que
finasterida) no sexo feminino e com efeitos adversos mais frequentes. Na mulher
com hirsutismo (excesso de pelo em áreas androgénio-dependentes) e alopécia
androgenética o acetato de ciproterona é
a melhor opção.
3 – Cirúrgico – Transplante de
cabelo: Consiste em remover cabelos das áreas não afecadas pela queda
geneticamente determinada (de lado e atrás), e implantá-los na área mais
afectada pela queda. O cabelo implantado, por possuir receptores hormonais
diferentes, não se perde com o passar dos anos. A técnica actual consiste em
implantar cabelo a cabelo, o que permite aparência natural (ver transplante de
cabelo). Este método é moroso, envolve um trabalho de equipa entre médicos e
técnicos. A densidade de cabelo que se obtém é limitada, mas habitualmente é
suficiente para obter um ganho significativo na aparência.
Alopécia Areata
Alopecia areata é uma doença auto-imune da pele que resulta
na perda de pelo no couro cabeludo e outras partes do corpo. Geralmente começa com uma ou mais áreas redondas no couro
cabeludo, barba ou qualquer outra parte do corpo. Muito raramente atinge todos
os pelos (alopecia universal). Pode também atingir as unhas, nomeadamente
sob a forma de depressões puntiformes. Afeta cerca de
dois por cento da população. A causa é uma predisposição genética para
auto-imunidade. O sistema imunitário ataca estruturas do próprio, neste caso os
folículos. Por vezes, existem fatores desencadeantes, como infecções ou stress emocional.
Como a inflamação atinge apenas a parte mais profunda do
folículo as células pluripotenciais da parte mais superficial podem refazê-lo,
pelo que existe potencial para voltar a haver cabelo. Em todos os casos, o
crescimento do cabelo pode ocorrer mesmo sem tratamento e mesmo depois de
muitos anos.
Formas
clínicas: a mais comum caracteriza-se por áreas redondas de alopécia. Há formas
com perda total de pelo no couro cabeludo (alopécia areata total) ou em toda a
pele (alopécia areata universal). Em todas as formas de
alopecia areata, os folículos pilosos permanecem vivos e prontos para retomar a
produção normal do cabelo sempre que recebam o sinal apropriado. São
fatores de mau prognóstico existir história familiar ou pessoal de
auto-imunidade (diabetes, tiroidite auto-imune, vitiligo, lupus eritematoso,
etc) o início precoce (na infância), a extensão das áreas sem pelo, o tempo de
evolução e o atingimento ungueal.
Pelada única – forma comum de apresentação |
Tratamentos: O tratamento mais comum é a corticoterapia sob forma de
comprimidos, cremes ou injeções.
As injeções, múltiplas, são dadas com uma pequena agulha.
Podem ser repetidas uma vez por mês. Se ocorrer
resposta (nascimento de novos cabelos) geralmente é visível dentro de quatro
semanas.
Outra
estratégia é provocar inflamação na pele com um creme irritante – imunoterapia
tópica. As células do sistema imunitário são chamadas e libertam o folículo da
agressão. Pode-se usar a antralina (derivado do
alcatrão), derivados da vitamina A, difenciprona (DPCP), dinitroclorobenzeno
(DNCB), ou éster do ácido dibutil esquárico. A pele pode ficar vermelha e
acastanhada e é normal comichão.
Finalmente, podem usar-se medicamentos capazes de enfraquecer
ou modificar a atividade do sistema imunitário. Destes, o mais usado e seguro é
o metotrexato embora esteja em aumento o uso de fármacos ditos “biológicos”. O
metotrexato é particularmente eficaz em associação, por permitir doses mais
baixas de corticosteroides no médio e longo prazo. O apoio psíquico deve ser
entendido como parte do tratamento e deve ser ponderado caso a caso. As
próteses, sob forma de perucas, sobrancelhas ou pestanas postiças podem minorar
o impacto psíquico e social da doença.
Deflúvio
telogen
Cada folículo piloso vive vários ciclos na
vida de uma pessoa. Cada um dura, em média, 4 anos (no pelo do couro cabeludo).
Existe uma fase longa, que corresponde a 90% desse tempo, chamada anagen, que
corresponde a crescimento do cabelo, uma muito curta chamada catagen, de
paragem do crescimento, e uma final, que dura em média 4 meses e no fim da qual
o cabelo cai, chamada telogen.
São muitas as causas para nos cair mais
cabelo durante um curto período: estarmos mais preocupados ou cansados, um
parto, alimentação desequilibrada, medicamentos, cirurgias, doença, varações
climáticas, etc. Setenta por cento das pessoas têm um aumento do número de
cabelos que caem durante os meses de outono. Esta variação é mais facilmente
detetada em pessoas com cabelo comprido (daí que normalmente as mulheres se
apercebam mais). O crescimento e a queda do cabelo (que dependem das variações
do ciclo em cada folículo) dependem da variação da luz solar. A hipófise deteta
essa variação e altera os níveis de melatonina e prolactina produzidos e isto
reflete-se no ciclo capilar, que é empurrado para a fase final (telogen) e tem
como consequência 3-4 meses mais tarde a queda da haste pilar (cabelo). Este
mecanismo permite aos mamíferos ficar com menos pelo nos meses quentes.
Uma forma diferente de queda é a crónica.
Sobretudo em mulheres, observa-se por vezes uma queda crónica ondulante que se
arrasta por anos. São as pacientes que nos dizem “cai muito cabelo mas também
nasce muito, e tem altos e baixos”.
Efluvium: queda de cabelo excessiva – não necessariamente Alopécia |
O conceito mais importante é que a queda de
cabelo corresponde a maior renovação e não a menos folículos na cabeça, pelo
que no longo prazo não determina menos cabelo. A queda fisiológica (cerca de
100 cabelos diários) é normal e sabermos isto pode tranquilizar.
Como devemos aconselhar alguém a quem cai muito cabelo?
Cabelo mais fino e em falta na área temporal |
Devemos manter
um estilo de vida saudável, não fumar e ter uma dieta equilibrada (quando não é
o caso podemos suplementar alguns nutrientes, como ferro, selénio e alguns
aminoácidos como a cistina). Existem loções com substâncias que prolongam a
fase anagen, o que pode ser tranquilizador para alguns pacientes (embora não
necessário). As lavagens diárias não são desaconselhadas, mas o secador deve
ser usado apenas depois de o secar manualmente com a toalha, a uma temperatura
não muito alta e a uma distância mínima de 30cm do cabelo. Deve-se evitar
pintar mais do que uma vez por mês e não é aconselhável faze-lo na mesma ida ao
cabeleireiro em que se desfrisa ou frisa o cabelo.
Finalmente, não esquecer que muitas vezes
há mais que um problema, podendo o paciente ter, além do deflúvio, um problema
que conduza a alopécia (menos cabelo).
Dr.
Rui Oliveira Soares
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