A tricologia é
um ramo da dermatologia. Dedica-se ao estudo das doenças que podem implicar o
cabelo. Tem técnicas próprias, como a tricoscopia (ver o couro cabeludo em
aumento), o tricograma (observação de cabelos “arrancados” ao microscópio) e o
fototricograma (permite avaliar a fase do ciclo em que os cabelos estão, a
espessura, a taxa de crescimento, a densidade) que são cruciais não só ao
diagnóstico mas também a objetivar a evolução nas várias doenças.
É fundamental
chegar a um diagnóstico preciso para poder ter um tratamento adequado. O erro
mais frequente a tratar problemas do cabelo é pensar que há produtos
universalmente eficazes. Cada pessoa tem um estado patológico diferente que
condiciona abordagem diagnóstica e terapêutica diversa.
Também a
técnica cirúrgica tem, em tricologia, características muito próprias. O
transplante de cabelo é um trabalho de equipa que engloba, além dos médicos,
enfermeiros e técnicos que têm que estar muito treinados e coordenados para um
bom resultado final.
A existência
de dermatologistas que se dedicam à tricologia é uma mais-valia e garantia para
os pacientes, já que algumas das doenças que afetam o cabelo não são frequentes
e a capacidade de tratar bem estes pacientes também é determinada pelo número
de pacientes anteriormente tratados pelo médico.
O número de
pacientes com determinada patologia tratados num determinado centro por ano é
um dos critérios mais óbvios na escolha do acompanhamento médico.
Em Portugal,
alguns hospitais públicos, como o Santo António no Porto, e privados, como o
Grupo CUF na área de Lisboa (quatro médicos dedicados à tricologia e mais de
dez mil consultas de tricologia/ano), têm consultas de cabelo disponíveis.
Existem também
blogues de Tricologia que contêm informação importante para os doentes, como
indicar grupos de entreajuda, novidades, locais para compra de pestanas,
sobrancelhas e perucas, dicas para lidar com alopécia no trabalho, em família,
informação sobre seguradoras, etc.
Fisiologia do Folículo Piloso
Cada cabelo
tem, dentro da pele, uma fábrica celular que lhe dá origem, chamada folículo
piloso. O folículo é uma estrutura da epiderme (camada mais superficial da
pele) embora atravesse a derme (segunda camada da pele) e a sua parte mais
funda se aloje no tecido sub-cutâneo (terceira camada da pele).
Anatomia do folículo |
O cabelo em si é uma estrutura morta, enquanto
o folículo é uma estrutura viva. Neste último, as células dividem-se
continuamente durante um período que no couro cabeludo corresponde a 3 ou 4
anos – a essa fase, que corresponde a um crescimento contínuo do cabelo,
chama-se anagen. Após esse tempo, o
folículo faz uma pausa de cerca de 3 meses – catagen – durante a qual a parte mais profunda do folículo
desaparece. No fim desta fase o cabelo (haste pilar) perde aderência ao
folículo e cai –telogen. Na
realidade, quando um cabelo cai já se reiniciou a intensa divisão celular para
sintetizar o cabelo que o substituirá. Enquanto a parte mais superficial do
folículo existe sempre, a parte mais profunda só existe durante a fase de
anagen.
Ciclo capilar |
Muitos
estímulos como fadiga, ansiedade, doença, parto, dieta, cirurgia e medicamentos
podem encurtar a anagen, pelo que um número anormalmente alto de folículos
entra em telogen. Isto determina uma queda de cabelos anormalmente alta sem, no
entanto, significar redução do número de folículos. A esta queda chama-se deflúvio
telogen agudo. Também pode ocorrer de forma ondulante e repetida no tempo,
sobretudo em mulheres, sem que se encontre causa evidente – deflúvio telogen
crónico.
A regeneração do folículo faz-se a partir de
células pluripotenciais que existem na parte superficial numa zona mais
espessa. Por este motivo, quando uma doença inflamatória da pele atinge as
camadas superficiais da pele danificando esta zona de células pluripotenciais,
a alopécia é irreversível (alopécia cicatricial primária). É o que sucede em
doenças como Lupus Eritematoso Cutâneo, Líquen Plano Pilar ou Foliculite
Decalvante. Quando, pelo contrário, a inflamação da pele atinge apenas a zona
mais profunda do folículo, como sucede por exemplo na alopécia areata, a falta
de cabelo é potencialmente reversível, já que o folículo pode regenerar-se a
partir das células pluripotenciais da zona menos profunda do folículo.
O folículo é
muito influenciado por fatores hormonais. A quantidade de luz, por via da
alteração dos níveis de melatonina e prolactina condiciona perda de pelo na
maioria dos mamíferos nos meses quentes. No homem, este efeito existe em 70%
das pessoas, embora em baixa magnitude (ver deflúvio sazonal). A hormona
masculina ativa estimula recetores que determinam pelo mais grosso na área do
peito e barba, bem como recetores que determinam pelo cada vez mais fino na
região superior do couro cabeludo. Assim, o mesmo estímulo determina efeito
oposto em várias áreas consoante os recetores predominantes em cada uma.
Dr.
Rui Oliveira Soares
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